segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Por Carolina Durães - Blog Viaje na Leitura

O primeiro capítulo se passa em Nova York, no final do ano de 1995 quando Sarah Wainness está indo assistir sua neta, uma bailarina que está se apresentando no Nova York City Ballet, quando começa a relembrar seu passado...

"As lembranças e os sentimentos se fundem em um só, materializando-se em mim em forma de lágrimas, que transbordam. A música para. As cortinas do palco são abertas e os dançarinos expostos. O silêncio que passa a imperar no ar é cortado apenas pelo som das cortinas do meu pensamento sendo erguidas. O espetáculo começa... São minhas lembranças... Minha vida!" (p. 15)

É nesse clima dramático que somos transportados para Karnobat, na Bulgária bem no início do ano de 1931. Através da perspectiva da jovem Yidish, uma garotinha de nove anos de idade, acompanhamos a trajetória de sua família até Berlim, onde o pai herdou de um tio distante uma gráfica. 

Yidish é uma garotinha curiosa e cheia de questionamentos, mas que é protegida por uma família amorosa e paciente. Seu pai, um homem simples, trabalhador e que tenta prover a seus filhos uma vida melhor; sua mãe, uma mulher amorosa mas ao mesmo tempo prática, que teve suas próprias desilusões; seu irmão Abner, um jovem de 17 anos de idade que tem ao seu lado os sonhos e aspirações, Baylah, a irmã prudente e Rina, a caçulinha de apenas três anos de idade e a representação da inocência. Berlim é muito diferente de Karnobat: a agitação, o grande número de pessoas e os estímulos sensoriais são descobertas diárias para a protagonista. Mas nada se compara ao momento em que ela descobre o balé e a graciosidade das bailarinas. 

Enquanto faz suas explorações, ela conhece Anton e uma grande amizade se forja. Junto com Anton, Yidish conhece seu primo Erdmann, filho de Franklin, um soldado da SS. Tal fato não é compreendido pelas crianças, mas as mudanças políticas em Berlim começam a ficar perceptíveis até mesmo para os inocentes...

Yidish tem sua família arrancada de casa, quando essa é invadida por soldados nazistas, que a separam de tudo o que ela conhece. Arrasada e assustada, Yidish começa a observar o pior da natureza humana em campos de concentração. Mas a esperança é algo que ninguém consegue arrancar de seu coração, por mais difícil que a situação se torne. 

"Uma vez a cada três dias, eles abriam a porta e jogavam um pouco de pão, batata e água, como se fôssemos animais selvagens ou algo pior, e que eram disputados por todas nós." (p. 83)

E ela se torna realmente difícil... Assumindo várias identidades para sobreviver, a jovem precisa deixar para trás tudo e todos que conheceu e esconder suas verdadeiras crenças.

"Peguei-me pensando nos homens algemados que passaram por mim antes de embarcar. Apesar de não saber quem eram e o que tinham feito, sentia que estávamos ligados por um fio invisível e cruel, que tínhamos algo em comum; as algemas. As deles eram visíveis, as minhas não." (p. 92) 

"Beco da Ilusão" é uma história apaixonante, sobre uma jovem resiliente e corajosa. É uma trama que tem como pano de fundo um dos momentos mais aterrorizantes da humanidade, mas que demonstra que é possível encontrar esperança nos locais mais sombrios.

Os personagens são ricos e complexos, repletos de nuances que não nos permite classificá-los como vilões e mocinhos (com algumas exceções). Seus medos, anseios e receios saltam da obra e conseguem nos fazer refletir. O enredo consegue ser impactante e ao mesmo tempo suave, graças a vulnerabilidade dos protagonistas.

Em relação à revisão, diagramação e layout foi realizado um trabalho excepcional. Existem inúmeros detalhes internos que enriquecem ainda mais a história.

"Hum... Ilusão achar que valeria a pena viver neste beco, chamar de vida a que eu iria ter." (p. 155)







Nenhum comentário:

Postar um comentário