quinta-feira, 27 de abril de 2017

Blog Pétalas de Liberdade - Por Maria


"A razão das pessoas está sendo testada, e a insanidade está vencendo." (página 156)

Sarah Wainness é a narradora, mas antes de ter esse nome, ela teve muitos outros. O primeiro foi Yidish, quando ela era uma garotinha de família judia que se mudou com os pais e os irmãos para Berlim, cidade onde se encantou pelo balé e fez amigos: Anton e Erdmann.

"Berlim agora não era para mim só uma cidade encantadora, mas havia se tornado 
a melhor cidade do mundo. Ela havia me apresentado o balé." (página 25)

Porém, a Segunda Guerra Mundial chegou e a pequena Yidish viu seus sonhos serem destruídos, ainda que em sua aparência ela não se assemelhasse ao demais judeus. Ela foi separada dos pais e passou a não ter mais controle sobre sua vida, tento que obedecer as ordens dos nazistas se quisesse permanecer viva e tentar reencontrar sua família e amigos. Trabalhou em campos de concentração, auxiliou em enfermarias, e até num bordel ela foi parar.

"Um minuto se passou. Depois outro. E chegou o momento em que não pude mais negar para mim mesma o incrível fato de que, por alguma reviravolta triste do destino, eu, Yidish, havia me tornado um fantoche nas mãos dos nazistas." (página 76)


Esse foi o segundo livro que li da Mallerey, o primeiro foi "O Segredo da Caveira de Cristal", leitura que tinha me deixado de queixo caído. Juntando-se a isso as resenhas super positivas que eu tinha lido sobre "Beco da Ilusão" e a temática da Segunda Guerra Mundial (sobre a qual já li um número considerável de obras, e talvez estivesse um pouco cansada do assunto, mas se é um livro da Mallerey vale abrir uma exceção!), confesso que eu estava até com medo de realizar esse leitura. Era olhar para capa e pensar: "Vou chorar horrores!", mas não chorei (mas talvez você chore!).

"Confesso que não gostei de Hitler, porque ele não gostava dos judeus. Não sabia a razão de ele ter essa aversão à nossa família, pois nós nem o conhecíamos e não havíamos lhe feito nenhum mal. Só sabia quem ele era porque a sua foto estava por todos os lugares da cidade." (página 32)



A Sarah/Yidish na infância é uma menina que encanta pelo seu jeito de ver a vida, ela é inocente e, ao mesmo tempo, esperta. Sabe aqueles personagens que te fascinam? Que você vê ganhando vida na sua frente? Que te fazem visualizar as cenas enquanto contam? A Yidish é assim. Acompanhamos seus relatos sobre a vida em Berlim, a casa nova e grande, a relação com os pais e os irmãos, a amizade com Anton e Erdmann, dois garotos alemães, o rádio como companhia e forma de saber as notícias do mundo, as dificuldades que a família começa a enfrentar por serem judeus, a escassez de comida, a falta de dinheiro e de trabalho, as tentativas de burlar o regime nazista... Até que Yidish não existe mais, ela se perde em meio ao terror que se instala na Alemanha, e se não tivesse anjos da guarda improváveis, talvez não pudesse contar sua história.

"Casa. Essa palavra soava tão vaga, tão distante, que pareceu naquele momento não ter nenhum significado. Invadiram o meu lar, minha vida e agora... O meu corpo? 
O que mais eles poderiam querer de mim? Minha alma?! Mas era era livre. 
Já deixara de me habitar há muito tempo." (página 144)


"Beco da Ilusão" é um livro curto, de leitura rápida graças à fluidez da escrita da autora e aos capítulos não muito extensos. É visível que foi necessário um bom trabalho de pesquisa para que a história fosse contata entrelaçando-se com os fatos históricos. Encontramos personagens muito marcantes, além da Sarah: seu pai e sua mãe, o irmão mai velho, as três irmãs, Anton e os pais, Erdmann e o pai, todos tem um perfil muito bem traçado.




A Mundo Uno Editora faz livros bonitos, mas em "Beco da Ilusão" ela se superou! A capa tem tudo a ver com a trama, há ilustrações de arame farpado em algumas partes, as páginas são amareladas, há poucos erros de revisão, a diagramação traz letras, margens e espaçamento de bom tamanho. No final, há algumas notas explicando determinados termos. Na divisória de um capítulo para o outro há uma página preta, com fotos que, em sua maioria, são da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, e algumas são bem chocantes! Além das fotos, há uma frase daquele ser asqueroso chamado Adolf Hitler. A primeira página de cada capítulo é cinza e tem uma ilustração linda de pássaros.


Confesso que ao finalizar a leitura ainda fiquei querendo algumas respostas, minha curiosidade em saber o que exatamente aconteceu com alguns personagens, dois em especial, persiste. Além disso, a explicação para o fato de Sarah ser diferente das outras pessoas de sua família foi algo bem inesperado. Talvez alguns capítulos a mais ou um epílogo maior pudessem acalentar mais o coração dessa leitora que vos fala.

"Tudo o que a memória amou já ficou eterno. 
E entre tudo o que você poderia ser para mim na vida, 
a vida escolheu torná-lo saudade..." 
(página 11)


"Beco da Ilusão" é um livro que recomendo, pela boa escrita da autora, pelos personagens marcantes, e para que tenhamos mais uma visão desse período triste que foi o nazismo. É chocante ver quantas atrocidades foram cometidas, e como cada pessoa (até mesmo crianças) podia ser um pouco má, compactuando com as crueldades contra outros seres humanos. "Beco da Ilusão" é uma leitura rápida, com cenas fortes, sobre amizade, amor e sobre crescer no meio de uma guerra.

"Eu permaneço sentada em silêncio, limpando as lágrimas da viagem ao tempo, 
tomada pela dor profunda da saudade, que é como uma faca de dois gumes... 
Ao mesmo tempo em que refresca a memória, corta a alma." (página 114)






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