quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Por Lu Pimenta - Blog Menina Lylu

Começo a resenha afirmando que a escrita da autora Mallerey Cálgara é carregada de muita emoção. A narrativa é toda na primeira pessoa, e começa no tempo presente com Sarah em uma apresentação de balé de sua neta Edwiges em Nova York, e no meio da apresentação ela começa a se lembrar de todo o seu passado.


E a autora conduz o leitor para o tempo de guerra, tempo onde a Alemanha era de arianos e a soberania de Hitler. Sarah ou Yiidish (seu nome de batismo judeu), se muda com a sua família da Bulgária para Berlim. Ao chegar lá, tudo novidade, lugares onde correr e brincar, uma realidade diferente do que ela conhecia, e a descoberta de uma paixão: o balé. E no meio de rodopios e sonhos, toda a sua fantasia se desaba, e ser judeu se torna algo depreciativo, e toda a sua família começa a ficar apenas dentro de casa com medo do que encontrar na rua.
“-Tudo o que a memória amou, já ficou eterno. E entre tudo que você poderia ser para mim na vida, a vida escolheu torna-lo saudade...” – Trecho pg. 13
E com o passar dos dias as coisas vão piorando, até o dia em que militares entram em sua casa e a levam e a separam de toda a sua família. A partir daí, Sarah precisa se agarrar à esperança de rever sua família, ao seu sonho de ser bailarina, à fé de rever seus amigos, para permanecer viva em meio de tantos atos desumanos cometidos pelos alemães.
“Invadiram o meu lar, minha vida e agora... O meu corpo? O que mais eles poderiam querer de mim? Minha alma?! Essa sim era livre. Já deixara de me habitar há muito tempo.” – Trecho pg. 141
Eu senti que a trama é conduzida um pouco no estilo de diário, principalmente por se tratar das lembranças de Sarah. Além disso o texto é cheio de detalhes e explicações sobre momentos da época, e dá para ver o quão a autora se dedicou à pesquisa para escrever este romance.
“Até neste momento único de alegria, o passado torna-se presente, arrastando-me para as regiões mais profundas dos abismos subterrâneos. Não é possível apagá-lo, como se tivesse sido escrito em um diário, onde simplesmente passamos a borracha, ou apenas arrancamos a folha, rasgamos e a jogamos fora.” – Trecho pg. 15
Várias vezes meu olhos ficaram marejados, e ao final não teve jeito, chorei mesmo (vocês já sabem o quão chorona eu sou)!!! 

Editora Mundo Uno está de parabéns pela edição de “Beco da Ilusão”. Primeiro que a capa ficou incrível! E aqui um detalhe, pasmem-se: a moça da capa é a filha da autora, Nanda Cálgara! Acreditam? Antes de cada capítulo há uma página preta com dizeres do Hitler e uma imagem da época. E a diagramação foi uma das mais lindas que já vi. Confiram:


Ao terminar a leitura eu entrei em contato com a autora para fazer 3 perguntas que tive ao ler o romance, vejam só o que ela comentou sobre a obra:

1) Foi comentado que você lançou este livro fora do Brasil também, mas que houve a restrição de algumas páginas pretas com os dizeres do Hitler. Foi isso mesmo? 

Sim, ele foi lançado no idioma alemão, com o título Sackgasse e sofreu algumas modificações, para se adaptar melhor com os leitores alemães, mas sem mudar a história. As fotos e frases do Hitler foram excluídas, bem como algumas notas de final explicativas de alguns acontecimentos.

2) De onde você tirou a inspiração para introduzir o balé na história? 

Eu queria colocar algo na história que não fosse só o que ela via externamente, algo bonito por dentro, somente dela. Algo em que pudesse se agarrar nos momentos difíceis, que servisse de impulso para seguir em frente. Um desejo tão forte, que nenhuma situação pudesse lhe arrancar. Teria que ser simples e forte, para ao mesmo tempo, ir contra com tudo que lhe acontecia. Fiz uma personagem como qualquer pessoa, uma pessoa que tem sonhos. Então optei pelo balé, que particularmente, acho puro, que me emociona muito. Gosto também de ópera, mas como ela era ainda criança quando se mudou, tenho certeza que o balé seria mais atrativo para a sua idade.

3) A pesquisa que você teve que fazer para falar com tanta propriedade, e saber tantos fatos históricos, como datas, locais, períodos, deve ter sido bem intensa! Como foi para você ver ou rever todas as tragédias desta época?

Foi uma pesquisa intensa e muito dolorida. Demorei mais quatro anos escrevendo e pesquisando. Entrei em contato com museus, assisti muitos documentários e filmes, li diversos livros, analisei muitas e muitas fotos, com olhar crítico. Não só na pessoa ou objeto no primeiro foco, mas também no ambiente em volta. O que me ligava a eles, ao passado, eram os detalhes. Nem é preciso mencionar que li muito sobre a história, a vida do Führer e das pessoas envolvidas com ele. Precisava saber sobre, mesmo que eu não mencionasse, não queria que se tornasse mais um livro de história. Naveguei pela Berlim atual para conhecer as ruas, a Ópera Estatal, as praças, os prédios e comparar com as fotos da época. Como disse acima, foi muito penosa a pesquisa, principalmente quando chegou a parte dos campos de concentração. Eu passava horas, dias, lendo, vendo as fotos para buscar detalhes, e isso me machucava muito. Para mim, que estava no conforto e na segurança do meu lar, se tornava quase que incompreensível acreditar que aquilo tinha sido, em algum momento, a realidade de milhares de pessoas. Era difícil entender como que o ser que se diz humano, foi capaz de cometer aquelas atrocidades e tantas outras que não foram relatadas. Pensei diversas vezes em desistir de terminar a história, mas eu estava tão envolvida com tudo aquilo, que não fui capaz, por mais que me doesse. Senti que eu tinha uma missão a ser cumprida e só me restava, fazer o meu melhor e... chorar.

Um romance cheio de história, que promete emocionar o leitor!




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