sexta-feira, 8 de abril de 2016

Por Ana Luiza - Blog Mademoiselle Loves Books


A HISTÓRIA

Em 1995, Sarah Wainness é inundada por lembranças enquanto assiste a um espetáculo de balé da sua neta em Nova Iorque. Apaixonada desde a infância pela dança, Sarah é tomada por lembranças de mais de 60 anos atrás, quando ainda não se chamava Sarah e morava na Bulgária. É 1931 e ela era uma jovem menina judia, chamadaYidish e que se destacava entre seus quatro irmãos por ser loira de olhos azuis.

Yidish ficou encantada quando a família mudou-se para Berlim, para que seu pai assumisse os negócios da família. Mesmo ainda muito nova, a garota fica maravilhada com a notícia e com a nova cidade, especialmente porque é lá que conhece e apaixona-se pelo balé. Mas mais que vestir as roupas da mãe e brincar de ser bailarina, Yidish também amou viver em Berlim pois logo fez amizade com os primos Anton Erdmann.

Contudo, a felicidade durou muito pouco. Os anos que se seguem são abalados pelo crescimento do Partido Nazista e da perseguição aos judeus. Já adolescente, Yidish sofre junto a sua família com as restrições impostas aos judeus e passa a viver de modo restrito, quase sempre trancada em casa e temendo pelo pior. A companhia de Anton é um das poucas coisas boas em sua vida, que toma um rumo ainda mais sombrio. 

Um dia, sua casa é invadida por soldados e Yidish é separada de sua família e enviada para um campo de concentração. Ela teme nunca mais ver aqueles que ama e sofre e presencia os muitos horrores mais uma vez impostos aos judeus pelos nazistas. Entretanto, o que a garota não sabe é que seu caminho voltará a cruzar com o de Anton e Erdmann. Mas antes de vê-los novamente e voltar a ter esperança, a jovem Yidish, que assume muitos outros nomes ao longo dos anos, vai passar por provações terríveis e deixará a jovem que sonhava em sua uma bailarina para trás para se tornar uma mulher forte e inabalável.


A LEITURA: NARRATIVA E TRAMA

Comecei a leitura de Beco da Ilusão bastante ansiosa, especialmente porque tive muitos problemas com os Correios e a obra demorou para chegar as minhas mãos. Contudo, fui cativada assim que comecei. A narrativa em primeira pessoa de Cálgara é muito boa e consegue nos prender rapidamente, apesar de que um trecho ou outro o texto ficou um pouco confuso. A história é contada pelo ponto de vida da Yidish, mas amei a surpresa de ter encontrado, mais para o final do livro, um capítulo narrado por outro personagem bastante querido. 

A trama do livro foi muito bem desenvolvida e, apesar de não ter conseguido me surpreender muito, a autora me impressionou com a ambientação perfeita. Cálgara consegue transmitir com exatidão e sensibilidade o período histórico em que Beco da Ilusão se passa e o livro se torna uma verdadeira aula de história sobre a Segunda Guerra Mundial, o Nazismo na Alemanha e resto da Europa e a terrível perseguição sofrida pelos judeus. Ao mesmo tempo em que nos ensina sobre aqueles tempos sombrios, Cálgara ainda consegue criar uma história única e cativante sobre a força de uma menina-mulher e sobre como, mesmo em épocas como aquela, a esperança nunca deve ser abandonada. O final da obra é perfeito e me deixou ao mesmo tempo de coração partido e de sorriso no rosto.

OS PERSONAGENS

É impossível não adorar a protagonista e narradora e torcer por ela do início ao fim. Acompanhamos Yidish da infância a velhice, a vemos crescer e amadurecer, deixar de ser uma criança sonhadora para se tornar uma mulher de força tamanha e personalidade incrível. A garota passa por terrores profundos e sua trajetória de sofrimento, mas também de esperança, é muito inspiradora e tocante. O livro ainda traz muitos outros personagens, todos com papel na trama e personalidades únicas. Nem preciso dizer que adorei Anton Erdmann, dois garotos de personalidades diferentes, mas de muita coragem e bondade.

A EDIÇÃO

A edição de Beco da Ilusão é um luxo só! O livro é recheado de detalhes, desde desenhos no início de cada capítulo a fotos da época que acompanham frases de Hitler. Um detalhe atencioso, mas que amei, foi encontrar várias notas no final da obra que explicavam muito termos e alguns acontecimentos históricos que apareceram durante o livro. Essas notas enriqueceram bastante a leitura e ajudam o leitor a compreender melhor o período retratado. 

Eu gostei também do tamanho e fonte escolhidos para o texto, que não contém nenhum erro, assim como das páginas amareladas. Eu não gosto muito da capa de Beco da Ilusão, mas ela combina bastante com a história, especialmente pela predominância do branco e do preto, que combinam bem com o tanto sombrio e pesado momento histórico retratado.

CONCLUSÕES FINAIS

Um drama histórico muito bem ambientado, Beco da Ilusão não é uma leitura fácil ou rápida, por causa das temáticas abordadas, mas é uma obra enriquecedora e necessária, pois, como a autora até comenta em uma nota, em um momento de tantos conflitos e crescente ódio como o nosso, precisamos nos voltar para o passado e lembrarmos como a intolerância, preconceito e alienação já ceifaram e destruíram muitas vidas.

Uma obra que merece ser lida e que cativa bastante, ainda mais por trazer uma personagem feminina forte e inspiradora, eu adorei o livro e fiquei feliz por tê-lo lido, além de agradecida pela oportunidade. Espero poder ler mais obras da autora em um futuro próximo. Beco da Ilusão está mais que recomendado para quem gosta de tramas que retratam períodos históricos e que nos dão muito o que pensar… 

QUOTE FAVORITO

“Roubaram-nos a liberdade de expressão, tornando-nos fantoches na mão do estado. Não podíamos falar, nem escrever aquilo que pensávamos. Não podíamos ter uma opinião, ou pelo menos, ela não poderia se tornar pública, existindo apenas na nossa mente.” Pág. 56




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