quarta-feira, 6 de abril de 2016

Por Taty Salazar - Blog Coleções Literárias


"Sonhos destruídos por causa de uma demência coletiva."

Sabe quando você ainda não terminou de ler um livro e já está preocupado em como fazer a resenha? Beco da Ilusão é um exemplo de livros assim, daqueles que se você não tomar muito cuidado acaba soltando spoiler.

O livro inicia em 1995, onde Sarah Wainness, uma senhora, começa a narrar sua história de quando ainda era Yidish, uma menina judia e sonhadora, que teve sua vida mudada completamente ao viver na época da segunda guerra mundial.


Yidish vivia em Karnobat na Bulgária com os pais e mais 4 irmãos, uma família deJudeus. O que sempre incomodou Yidish era sua aparência diferente dos demais membros da sua família, era a única loira de olhos azuis. Se passava tranquilamente por uma Alemã.

Ela tinha 9 anos quando sua família se mudou para Berlim, seu pai e seu irmão mais velho iriam trabalhar em uma gráfica de um tio distante, a mãe da menina era  a única contra a mudança, mas não ousou reclamar.

Logo quando chegaram naquela cidade enorme e Alemã a família foi conhecer a gráfica e foi aí que Yidish adquiriu o sonho de ser bailarina. Próximo a gráfica ficava o prédio de opera onde havia apresentações também de balé. 

Seu pai pagou aulas particulares para ela e a irmã aprenderem o idioma o mais rápido e assim irem para uma escola, Yidish logo aprendeu, pois era uma garota dedicada e observadora. Em pouco tempo fez amizade com Anton que era alemão, mas era filho de criação de um judeu. Erdmann (primo de Anton) também tornou-se amigo da menina, mas o sentimento que envolvia os dois estava mais para algo além da amizade.
Juntos se divertiam muito, mas foram proibidos de se verem quando resolveram sair anoite escondidos dos pais para assistir a uma apresentação de balé. O sonho de Yidish foi enterrado pelo pai que a proibiu de encontrar os amigos e de chegar sequer perto do prédio. Mas mesmo assim em seu coração ela ainda tinha esperança.
"Sentia-me como um pássaro de asas cortadas, que fica se atirando contra as barras de gaiola."

O que Yidish não esperava é que sua vida iria dar um salto e que ela chegaria no fundo do poço, nem imaginava que logo se sentiria perdida, sozinha e que passaria por coisas horríveis... Quando Hitler assumisse o poder.
Quando Hitler assumiu o poder tudo mudou de uma forma inacreditável, a cidade estava virando um caos, pessoas desempregadas, passando fome e os judeus passaram a ser vistos como ratos imundos. Quando tudo parecia não piorar, começaram as perseguições, foi aí que a casa de Yidish foi invadida por nazistas, sua família foi levada e ela foi "salva" pelo pai de Erdmann (um soldado alemão com um cargo um pouco mais alto que os demais). Ele deu uma identidade falsa para a menina e a livrou do futuro que levaria se todos soubessem que ela era uma judia. Era melhor ser uma alemã que cometeu um "crime" do que uma judia naquela época.

Yidish foi parar em um campo de concentração, onde havia muitas mulheres alemãs "impuras". Nesse ponto da história eu realmente fiquei cheia de dúvidas e cheguei a conversar com a autora, pois se a personagem estava se passando por uma alemã, por que então todas as alemãs naquela prisão sofria como se fossem judeus, então ela esclareceu minhas dúvidas... Os nazistas como todos sabem, desprezavam os judeus, homossexuais, negros, pessoas deficientes, sejam elas judias ou alemãs... E também desprezavam pessoas que nasceram na Alemanha, mas tinha descendentes por exemplo judeu, ciganos ou poloneses.
"Ninguém disse nada, Sem gritos, nem choro, nenhum gemido. Nada. Apenas a dor e rancor, materializados em um grito de silêncio.
(Andem rápido e vão para o trabalho. Hoje, vocês não receberão a ração.) - gritou um soldado.
Eles chamavam de ração uma mistura estranha e sem sabor que nos serviam duas vezes por semana, e que para o nosso azar, era aquele dia... "

Nesse campo essas mulheres trabalhavam como escravas, muitas eram feitas de cobaias por médicos loucos e doentes que faziam atrocidades, para eles, usar aquelas pessoas como cobaias era a mesma coisa que usar ratos de laboratório, e quando as coisas não corriam como eles esperavam assassinavam friamente aquela pobre pessoa inocente.

Por sorte Yidish acabou trabalhando na enfermaria, lá ela corria um risco menor, mas mesmo assim tinha medo, medo de morrer ali daquela maneira, de não poder realizar o sonho de ser bailarina... de nunca mais ver seus pais.

Daqui para frente não vou mais contar nada, mas saibam que acontece muitas reviravoltas. A leitura foi sofrida, demorei mais do que eu pensei que demoraria para ler o livro, pois realmente é daquele livro que você precisa parar um pouco e refletir sobre as atrocidades que foram feitas na época e quantas pessoas inocentes sofreram, até mesmo crianças.

A escrita da autora é fabulosa, ela descreveu muito bem cada cena, realmente eu consegui visualizar perfeitamente tudo o que lia, alias o livro é narrado em primeira pessoa por Sarah e logo no final tem um capitulo narrado por Erdmann.
Yidish, ou Sarah, ou tantos outros nomes que ela teve, é uma personagem forte, é impressionante como ela conseguia esconder seus sentimentos, como não se desesperava, aguentava firme mesmo vendo tantas coisas horríveis ao seu redor.
Erdmann é um personagem que eu realmente só consegui me simpatizar por ele já no final, já Anton é um amor, um amigo que qualquer pessoa gostaria de ter.

Há um segredo que é revelado logo no final do livro, e por esse motivo o livro não ganhou 5 estrelas, pois realmente eu já tinha desvendado parte do segredo bem nas primeiras páginas, e antes da metade do livro já tinha revelado o restante, então não foi algo  impactante.  E também encontrei alguns errinhos de escrita durante a leitura, mas foram bem poucos e simples nada que atrapalhasse.
O final do livro, a ultima página literalmente, me deixou pensativa, pensei até mesmo que faltava páginas no meu livro, que alguém tinha arrancado de fato a ultima página, mas não... Aquele realmente foi o final, e depois de meditar um pouco percebi o que tinha de fato acontecido.
A diagramação do livro está impecável, em cada capitulo temos uma foto que retrata momentos da época e abaixo frases de Adof Hitler muitas delas repulsivas.
"Se você fica algum tempo com pessoas que falam sobre política o tempo todo, suas ideias impregnam de uma maneira no nosso corpo através dos poros e a mente fica remoendo aquilo"

Fiquei pensando muito durante a leitura, principalmente depois que Hitler assume o poder, na forma como rapidamente conseguiu fazer uma lavagem cerebral nas pessoas que o cercavam. Mas também aprendi muitas coisas, como por exemplo, que no meio daquela cena devastadora existiam soldados alemães que não eram nazistas, que as escondidas ajudavam quem podiam. Muitas vezes julgamos todos eles, mas ser alemão não significa ser nazista, eles estavam ali como soldados nazistas, pois não tinham outra escolha, ou aceitava ser soldado ou era mandado para a prisão e vistos como traidores, inimigos.

Gostei muito do livro e recomendo. É uma leitura mais pesada, mas o livro é muito bem escrito, detalhado e envolvente. Agradeço a autora por ter me dado a oportunidade de conhecer essa incrível história




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