terça-feira, 19 de abril de 2016

Por Nizete - Blog Cia do Leitor

A Pequena Yidish mudara-se para Berlim aos 9 anos de idade e estava eufórica com a novidade. Seu pai que antes exercia o oficio de sapateiro, herdara os negócios da família e não podia recusar o ultimo pedido de um ente querido. A expectativa era boa, pois era uma cidade próspera, ótima para criar seus filhos. Tudo era novo, lindo, frenético. Afinal, Berlim era a capital do país, onde a modernidade e as noticias aconteciam primeiro por lá, para só depois se espalhar para o resto do pais.
Assim que chegou na nova cidade, Yidish deslumbrou-se com o prédio Ópera Estatal de Berlim, toda sua grandiosa beleza fez com que a menina disparasse para o local a fim de explorá-lo. E foi lá que se encantou com os diversos cartazes e monumentos dos artistas que por lá se apresentavam. Enquanto admirava, deparou-se com uma linda e requintada bailarina. Foi nesse mais singelo momento que a doce menina desejou ser como ela. E foi movida por esse sonho de um dia ser uma famosa bailarina que Yidish encontrou forças para o viria pela frente.

Conhecera com apenas algumas semanas de estadia, os primos Anton e Erdmann, do qual em pouco tempo criara um laço de amizade inabalável. Ambos sentiam muito carinho e respeito um pelo outro e juntos sonhavam em realizar o sonho da bela menina sapeca.

Apesar de muito esperta e curiosa, a inocente menina não tinha ciência da triste realidade que se escondia por trás das moradas germânicas. Realidade essa que envolveria o futuro de sua família e de toda uma nação judia.

Mas, sonhos podem ser destruídos pelas armadilhas que o destino nos prega.

No auge da insanidade humana, nazistas invadem sua casa levando toda sua família, inclusive Anton que esta com eles. Yidish foi separada de sua família e levada para um destino incerto, inseguro e extremamente cruel, um campo de concentração nazista. A cada mudança de lugar, um novo nome ela recebia, chegou a se perder por assumir tantas identidades diferentes. Mas lembrava-se logo quem era, quando um agressor trazia a memória o motivo de todos estarem naquele inferno.

Yidish agora com 14 anos, só tinha uma coisa em mente, sobreviver. Pois, tinha a esperança de um dia poder reencontrar sua família. Mas, pra isso ela teria que buscar forças dentro de sua alma e agarrar-se nas lembranças de dias melhores ao lado dos seus pais, irmãos e seus amigos Anton e Erdmann.

Judeus, comunistas, ciganos, homossexuais, negros, deficientes, para os arianos eram o lixo da humanidade. Ninguém seria polpado das garras nazistas, ninguém.
" - Tudo o que a memória amou, já ficou eterno. E entre tudo que você poderia ser para mim, a vida escolheu torná-lo saudade..."
Impressões:

Meu Deus do Céu, meu Deus!
Vou iniciar descrevendo em poucas palavras o que achei desse livro: Chocante, real, impressionante, emocionante, surpreendente e marcante.

Como disse na introdução, eu conheci  Mallerey Calgára em 2011 através de seu livro de estréia, Anjo Negro, achei a obra fascinante e bem criativa. Mas, ao ler Beco da Ilusão, percebi como a autora havia amadurecido incrivelmente em relação a sua escrita. Bom, sabemos que o tema ajudou muito, o livro tende ser mais sério, mais intenso e a própria ficção misturada com fatos históricos fez desse livro memorável.

A obra é rica de informações e descrições, consegui visualizar bem o cenário, e a trama dos personagens fictícios mesclaram-se perfeitamente em toda a história real.  Notei também que a autora mergulhou de cabeça nas pesquisas a ponto de escrever um livro tão detalhado que cheguei a devanear e questionar se a ela um dia vivera tudo que foi narrado.

Foi incrível e inesperado a forma como eu me envolvi com essa obra, como a história mexeu com os meus sentimentos. Me peguei diversas vezes chorando, chocada com as atrocidades cometidas contra uma nação. Contra pessoas que nada fizeram, nada além de existir. Elas nem tinham forças para lutar contra seus agressores, eram passivas! Me vi no lugar dessas pessoas e lamentei por elas, pela dor, pela humilhação, por suas perdas, por tudo. Então, pensei nos sobreviventes, eles levariam consigo pra toda a vida as lembranças de um pesadelo sem fim. Dificilmente eu conseguiria apagar da memória as imagens que eles presenciaram, lágrimas seriam pouco pra apagar o inapagável.

Mallerey construiu uma linda história em um cenário de terror, com personagens marcantes e carismáticos. Foi aí que me agarrei em Yidish, foi nela que depositei toda a minha esperança, sim ela é uma personagem forte, e eu precisava no meio de toda essa realidade encontrar uma luz.

Yidish tinha 14 anos quando foi capturada, tinha uma postura de guerreira, demostrou muita coragem, astúcia e obstinação. Agiu de forma brilhante em muitos momentos, e quase a vi fraquejar em outros, ela esteve no seu limite. Afinal todos nós sabemos das atrocidades que os judeus passaram nas mãos dos nazistas. Mesmo sendo a protagonista, ela não escapou dos sofrimentos físicos e emocionais. Mas, mesmo enclausurada com centenas de pessoas em um lugar gélico, sem estrutura alguma e muitas vezes sem ter o que comer, ela foi forte e solidária.  Acompanhamos de perto toda essa transição de uma infância feliz para um amadurecer amargo.

Anton e Erdmann, são incríveis. Não falarei muito deles aqui, mas guarde bem essas palavras. Eles são mais que amigos de Yidish, são a luz. Anton um amigo fiel que prometeu protegê-la, Erdmann um jovem cavalheiro, que será primordial para sua sobrevivência.

Também não entrarei em detalhes a respeito do título do livro "Beco da Ilusão", pois estarei entregando parte da história se tentasse explicar. Apenas leia até o fim para poder compreender o seu significado.

O Livro tem uma linda capa, assim como o título é igualmente significativo, a diagramação está impecável, a obra foi escrita em primeira pessoa e apreciei demais o índice no final do livro com notas das quais explicam termos usados em alemão e acontecimentos históricos, facilitou demais a nossa compreensão.  Os 18 capítulos são lindamente iniciados após uma página preta com fotos da época com frases do próprio Hitler. Já vi muitas dessas fotos na internet, mas são imagens que sempre me incomodaram, dói no fundo da alma. Por essa razão, a partir do oitavo capítulo eu passei a pular as páginas pretas. É pessoal isso, talvez você não se perturbe ao vê-las. No entanto, isso não me impediu de continuar a leitura, que a essa altura estava bastante envolvida com a trama e roendo as unhas de tanta aflição.

O desfecho...sem palavras.
Claro que do inicio ao fim do livro vivemos uma montanha russa de emoções, Yidish passa praticamente toda sua adolescência por trás dos muros de arames farpados dos campos de concentração. Presencia as piores atrocidades, atos desumanos que se não fosse pelas fotos, duvidaríamos que um dia aconteceu. Assim como tantas vítimas de guerra, ela pensou em diversas vezes desistir de lutar, entregar-se a própria derrota, mas, "alguém" não permitiria que sua vontade fosse realizada. Não a menina Yidish. Ela se perguntava, quem a protegia e porque ela? Perguntas essas que teriam respostas apenas no final do livro.

O Homem não é uma peça de tabuleiro em que sua vida está em jogo e pode ser descartado a qualquer momento, ou um brinquedo que pode ser quebrado e posto fora, ou um inseto que pode ser esmagado sem dó nem piedade. Não mesmo. Mesmo que pequenos detalhes como cor, raça, religião, opção sexual e ideais, aos olhos dos ignorantes sejam motivos de preconceito e agressões, ainda assim,  somos todos iguais.  Ouso a pregar uma frase clichê que definirá o que digo: O sangue que corre nas nossas veias é vermelho, todos temos o mesmo fim, a morte, então pra que tanto ódio? Não repitamos os erros de nossos antepassados, as crueldades que marcaram décadas e décadas as nossas vidas. Sejamos mais irmãos, mais sábios, mais humanos. 

Indico essa incrível obra para as pessoas que gostam de se emocionar, é um romance de guerra que vai fazê-lo refletir por dias e vai te fazer desejar ser alguém ainda melhor. A vida é bela e preciosa, temos que zelar por ela e pelo nosso próximo. Eles livros tende a nos conscientizar somos falhos e se nos permitir viver na ignorância, intolerância e preconceitos, poderemos por tudo a perder... novamente. Então sejamos melhores no presente, porque o nosso futuro à Deus pertence.

Recomendo, é uma das melhores histórias do gênero, eu garanto.

Parabéns Mallerey, você foi fantástica e louvo sua obra aplaudindo de pé. Bravo!
E as cortinas se fecham...







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